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| Igreja Matriz de Santa Luzia - Padroeira de Jijoca |
Histórico Extenso da Cidade de Jijoca de Jericoacoara
Localização e Contexto Geográfico
Jijoca de Jericoacoara está localizada no estado do Ceará, na microrregião do Litoral Oeste (Litoral de Camocim e Acaraú), a aproximadamente 300 km da capital Fortaleza. O município é inserido em um dos cenários mais espetaculares do Brasil, entre o Oceano Atlântico e o Parque Nacional de Jericoacoara. Sua paisagem é dominada por dunas de areia branca, lagoas de água doce (como a Lagoa Azul e a Lagoa do Paraíso), coqueirais e formações rochosas únicas, sendo a Pedra Furada seu cartão-postal mais famoso.
Origens e Povoamento (Séculos XVII - XIX)
As origens de Jijoca remontam ao século XVII, com a ocupação do território por famílias de pescadores e criadores de gado. O nome "Jijoca" tem origem no tupi-guarani, significando "lugar de muitos ouriços", uma referência à abundância de coqueiros na região. "Jericoacoara", por sua vez, vem do tupi "yuruco cuara", que se traduz como "buraco das tartarugas".
Por séculos, a área era uma simples vila de pescadores, isolada do resto do estado pela vastidão de dunas móveis. O acesso era extremamente difícil, feito apenas por jangadas, embarcações precárias ou longas caminhadas através das areias. A vida da comunidade girava em torno da pesca artesanal, da agricultura de subsistência e da criação de animais. A região pertencia inicialmente ao município de Acaraú.
O "Descobrimento" e a Era dos Mochileiros (Décadas de 1970 - 1980)
O ponto de virada na história da região ocorreu na década de 1970. Em 1975, o empresário e fotógrafo cearense Raimundo Rocha publicou uma reportagem no Jornal O Povo intitulada "Descobri o Paraíso", apresentando Jericoacoara ao mundo. As imagens de dunas intocadas e praias desertas capturaram a imaginação de aventureiros.
Pouco depois, em 1984, o governo federal, por meio do IBDF (antecessor do ICMBio), decretou Jericoacoara como Área de Proteção Ambiental (APA), e posteriormente, em 2002, como Parque Nacional. Este status de proteção impediu a especulação imobiliária desordenada e manteve o ar rústico do local, mas também começou a atrair um novo tipo de visitante: os mochileiros.
Nesta época, Jijoca era a "cidade-portal" para Jericoacoara. Os viajantes chegavam de ônibus a Jijoca e de lá pegavam os famosos "jardineiras" (caminhões adaptados) para vencer os últimos 15 km de estrada de areia até a vila de Jeri. A infraestrutura era mínima: não havia energia elétrica (apenas geradores), água encanada ou asfalto. A vida noturna era à base de lamparinas e a comunicação com o mundo exterior era quase nula. Foi essa aura de "fim do mundo" que consolidou o mito de Jericoacoara.
A Emancipação Política e a Explosão Turística (Década de 1990)
O crescimento da visitação e o desenvolvimento da vila de Jericoacoara criaram a necessidade de uma administração local mais autônoma. Em 1991, Jijoca se emancipou de Cruz (município do qual havia passado a fazer parte), tornando-se oficialmente Jijoca de Jericoacoara.
A década de 1990 viu a consolidação de Jericoacoara como um dos destinos mais cobiçados do Nordeste. A fama se espalhou internacionalmente, atraindo não apenas mochileiros, mas também turistas em busca de conforto e belezas naturais únicas. Pousadas charmosas começaram a surgir, e a vila foi se estruturando, ainda que mantendo suas ruas de areia como uma característica fundamental.
O Século XXI: Globalização e Desafios
O novo milênio trouxe transformações profundas:
Energia Elétrica: A rede elétrica convencional chegou por volta de 1998, mudando completamente a dinâmica do local.
Pavimentação do Acesso: A pavimentação da estrada CE-085, concluída em 2003, foi o maior catalisador de mudança. Reduziu drasticamente o tempo de viagem a partir de Fortaleza e facilitou o acesso, levando a um aumento exponencial no fluxo de turistas.
Estruturação Turística: Jijoca, como sede do município, cresceu para oferecer suporte logístico, com comércio, serviços públicos, bancos e residências para quem trabalhava na vila.
Turismo Global: Jeri foi descoberta pelo turismo de luxo. Pousadas sofisticadas, restaurantes gourmet e uma vibrante vida noturna se estabeleceram, coexistindo (nem sempre harmonicamente) com a simplicidade original.
Quadro Populacional e Evolução Demográfica
A população de Jijoca de Jericoacoara é um reflexo direto de sua história turística. O município possui uma dinâmica populacional singular, com uma população residente fixa relativamente pequena, mas uma população flutuante (turistas) que pode multiplicar esse número várias vezes, especialmente durante a alta temporada (julho e dezembro/janeiro).
1991 (Fundação): 6.294 habitantes.
2000: 10.562 habitantes (crescimento de 67% em 9 anos, refletindo os primeiros impactos da emancipação e do turismo).
2010: 16.802 habitantes (crescimento de 59% na década, influenciado pela pavimentação da estrada).
2022 (Estimativa IBGE): 21.392 habitantes.
A evolução demográfica mostra um crescimento constante e vigoroso, muito acima da média nacional, impulsionado quase que exclusivamente pela economia do turismo. A população é majoritariamente urbana, concentrada na sede municipal (Jijoca) e, principalmente, no distrito de Jericoacoara.
Conclusão
Jijoca de Jericoacoara é um caso ímpar de transformação no Brasil. Sua história é a jornada de uma pacata vila de pescadores, isolada por dunas, que se tornou um dos destinos turísticos mais icônicos e desejados do planeta. Essa trajetória, porém, não foi isenta de desafios, como a pressão imobiliária, a necessidade de equilíbrio entre preservação e desenvolvimento, e o impacto sobre a cultura local. Hoje, Jijoca carrega as marcas de seu passado simples e a complexidade de seu presente globalizado, sendo um testemunho vivo do poder transformador da natureza e do turismo.
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