Aeroportos do Ceará na Vitrine Privada: Um Marco para o Turismo Regional
Os aeroportos de Jericoacoara (Cruz) e Canoa Quebrada (Aracati) estão no centro de um dos mais aguardados leilões de infraestrutura do Nordeste.
Incluídos na primeira leva do Programa AmpliAR do Governo Federal, a concessão à iniciativa privada promete injetar mais de R$ 140 milhões em investimentos e transformar a experiência de voo em dois dos destinos turísticos mais famosos do Ceará.
Este movimento estratégico visa não apenas modernizar a infraestrutura, mas também consolidar a aviação regional, abrindo novas rotas e potencialmente recebendo voos internacionais.
Quadro Comparativo: Jericoacoara vs. Aracati
| Característica | Aeroporto de Jericoacoara (Cruz) | Aeroporto de Canoa Quebrada (Aracati) |
|---|---|---|
| Situação Atual | Ativo, com voos comerciais regulares | Inativo, sem voos comerciais regulares |
| Movimentação (2024) | +206 mil passageiros (jan-set) | 0 |
| Investimento Previsto | R$ 99,4 milhões | R$ 42,08 milhões |
| Obra Principal | Construção da RESA (área de segurança) | Ampliação do terminal e estacionamento |
| Extensão da Pista | 2.200 metros (a maior do Estado) | 1.800 metros |
| Potencial | Internacionalização | Reconexão com o mercado aéreo |
| Inauguração | 2017 | 2012 (remodelado) |
Um Mergulho nos Detalhes da Concessão
O edital do Programa AmpliAR estabelece regras claras e prazos rígidos para as futuras concessionárias.
O modelo de concessão é individualizado, permitindo que cada aeroporto seja arrematado por uma empresa diferente, focando em suas necessidades específicas.
Principais Obrigações e o Prazo-Chave:
A empresa vencedora terá 36 meses, a partir da aprovação de um diagnóstico inicial, para executar todos os investimentos obrigatórios. As responsabilidades vão muito além das obras, incluindo:
Operar, manter e explorar comercialmente os aeroportos.
Prestar todos os serviços de embarque, desembarque e operação de aeronaves.
Implantar e manter o Serviço de Combate a Incêndio (SESCINC).
Assumir os riscos financeiros e operacionais, arcando com custos extras por erros de planejamento ou queda na demanda.
Qualidade do Serviço e Tarifas:
Por serem aeroportos de menor porte, o monitoramento da qualidade será simplificado, baseado no sistema de atendimento e registro de demandas dos usuários, com relatórios à ANAC.
Um ponto crucial para o passageiro é o teto da Tarifa de Embarque, fixado em R$ 44,27 para voos domésticos, valor significativamente inferior aos R$ 56,88 cobrados atualmente em Fortaleza.
Curiosidades e Contexto Histórico
De Aeroclube a Aeroporto: O terminal de Aracati não foi construído do zero. Ele nasceu da remodelação do antigo aeroclube da cidade, inaugurado em 2012 como o primeiro aeroporto do litoral leste cearense. Em seu auge, chegou a operar voos para Recife (PE) e Campinas (SP), além de Fortaleza.
O "Boiadeiro" de Jericoacoara: A pista de pouso original de Jericoacoara era de terra batida e ficava dentro da vila. O transporte de passageiros e bagagens para essa pista era feito em jardineiras adaptadas, um veículo conhecido localmente como "boiadeiro".
A Importância da RESA: A obrigatoriedade de construir uma RESA em Jericoacoara não é mera burocracia. Essa área de segurança, localizada no final da pista, é um requisito internacional para a homologação de voos comerciais de maior porte e, principalmente, para a desejada internacionalização do aeroporto.
A Sombra da Infraero: Até o início de 2024, ambos os aeroportos, junto com outros sete do interior cearense, eram administrados pela Infraero. Antes disso, em 2022, a gestão havia passado para a Secretaria de Turismo do Estado (Setur).
O Desafio e a Oportunidade: Perspectivas de Especialistas
Segundo a especialista Viviane Falcão (UFPE), as concessões são uma "tentativa do Governo Federal para ver os aeroportos voando alto". Ela enxerga com bons olhos o fato de a concessionária precisar já atuar no Brasil, o que minimiza os riscos.
O grande desafio, no entanto, está no "oligopólio" das três grandes companhias aéreas (Azul, Gol e Latam). Enquanto Jericoacoara é um caso de sucesso a ser consolidado, Aracati é um quebra-cabeça a ser resolvido.
Sua proximidade com Fortaleza (cerca de 2h de carro) é seu maior obstáculo.
A especialista defende que será necessária uma política pública agressiva, em conjunto com a concessionária, para vender a região de Canoa Quebrada como um destino único, uma "porta de entrada" direta para o turismo internacional, desviando a rota tradicional por Fortaleza.
Negociações recentes mostram que o caminho é árduo: a Gol já descartou voos para Aracati, mas o Governo do Estado mantém diálogo com Azul e Latam.
O futuro do aeroporto do litoral leste dependerá, portanto, não apenas de uma boa infraestrutura, mas de uma estratégia comercial inteligente e de uma visão integrada de turismo regional.
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Foto Divulgação: melhoresdestinos



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